Lá Estavam os Esqueletos

O Rato Cinza
2 min readAug 6, 2020

Podia vê-los pelo olho mágico enquanto apertavam a campainha. Tinha convicção de que jamais lhes daria entrada.

Abriu a porta. Serviu café.

Estava de prontidão para atacá-los com martelo ao alcance das mãos debaixo da mesa de jantar. Mas as mandíbulas, que rangiam abrindo e fechando, não receberam qualquer golpe.

Pela madrugada, viu-os comendo, bebendo, investigando os baús da casa com seus cálices de vinho nas mãos. Já planejava fugir pela janela, trancando as pilhas de ossos na velha casa para onde jamais voltaria.

Acontece que seu corpo era cansado. Deitou-se na cama para dar tudo o que tinha.

Pela manhã, já era também uma caveira a circular pelos cômodos junto aos visitantes.

O Rato, 05/08/2020
https://twitter.com/oratocinza

Ratos cinzas são mamíferos roedores que vivem até aproximadamente oito anos. As fêmeas têm gestações de 21 dias e acasalam centenas de vezes, parindo muitas centenas de filhotes, ou seja: a pipa voa, bruxão! Para matar um rato é necessário usar uma ratoeira, não literatura. A literatura não mata os ratos. Sob hipótese alguma a crônica mataria! Então, o rato cinza lê e compreende a intertextualidade, mas é que esse veneno não faz efeito. A poesia causa prazer e chama a atenção. Mas é por respeitar o que Caetano Veloso falou: “E sei que a poesia está para a prosa assim como o amor está para a amizade. E quem há de negar que esta lhe é superior?”. Adote um rato, não escreva prosas para ele. O puto não merece.

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