Eu Queria Um Google Maps que Mapeasse o Ser Humano.

O Rato Cinza
3 min readAug 11, 2020

Tente imaginar uma rodovia da sua cidade num dia de trânsito impossível. Cada pessoa ao volante tem pelo menos dezoito anos carregando a própria existência nas costas. Corações partidos, noitadas, pais abusivos, brigas de arquibancada, receitas de tarja preta e as histórias por trás. Quem está indo ao motel ou voltando dele? Quem está indo flagrar o cônjuge no motel levando um revólver no porta-luvas?

A pior maldição da sua vida seria o vício num aplicativo em que você pudesse dar um zoom nas histórias das pessoas que cruzam seu caminho na rua. O verdadeiro inferno. Tudo o que eu queria! Então pense: a literatura resolve, no presente, as tarefas que caberiam às tecnologias e artes que ainda não foram inventadas. Fez o que tinha de fazer no lugar do cinema até que o cinema nasceu e vem dando zoom nas nossas encruzilhadas e colisões há milênios. Portanto, o que eu tenho para mostrar é só meio tostão. Seis histórias que podem ser lidas isoladamente, mas que se cruzam em um engarrafamento no dia em que algo extraordinário acontece.

Um rapaz a cinco quilômetros do próprio futuro. Correndo como nunca para chegar.

Alguém na cabine de um caminhão tem pendências a resolver na cidade. Deseja encontrar alguns fatos do passado na esquina. E outros precisam ser evitados.

Uma multidão de gritos dentro de um FIAT em movimento. E é necessário decidir qual deles será ouvido.

Um motorista não sabe mais o que fazer para evitar que os dias passem diante dos seus olhos sem que nada mude.

Um antiprólogo que introduz sem que se perceba na hora e um antiepílogo que costura tudo com uma linha transparente.

Os aperitivos abaixo se transformarão em links depois que os contos forem lançados esta semana. Eu espero que você se interesse. Na verdade, eu imploro. Na verdade, eu ameaço. Até mais!

--

--