5. Sigo Bem (Conto)

Garota, sei nem como explicar: minha vida virou de cabeça pra baixo mais ainda!

O Rato Cinza
16 min readAug 13, 2020

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Pretinha, não sei quando você vai receber esse áudio. Eu gravo, vou guardando e quando encontrar teu telefone eu mando tudo. Também não sei qual nome tu tá usando hoje em dia, problema é esse! Garota, tenho nem como explicar: minha vida virou de cabeça pra baixo mais ainda. Tô de passagem no Rio, dirigindo caminhão, te procurando na internet desde que cheguei na cidade. Já desisti de te caçar no Face. Abri o Tinder e fui dando x em todo mundo esperando tu aparecer. É pra saber se tu tá viva, caralho.
Salvo em . 18/04/2019 . quinta . 15:45

Já te falei do caminhão, mas não disse o tanto de coisa que precisou rolar pra chegar nesse serviço. Quando eu fui embora do Rio, comecei a cortar frango numa firma de Goiás e teve horas que era pior do que os socos que o Gustavo dava nas costelas da gente. É viver de morrer. O cheiro não é de podre, é da promessa, e tem a água rosa e a gosma e é tudo rápido demais, os cortes e a cicatriz na mão. Eu vivi assim até tirar carteira B e começar a transportar as peças congeladas. Depois peguei transporte de boi vivo e ganhei o primeiro apelido, mata vaca, porque eu era a motorista que mais tinha gado morto no fim da viagem. Imagina ganhar essa fama sendo mulher. Nessas, você tem que dar satisfação do cadáver, de onde acha que foi o buraco que quebrou a perna da vaca, uma humilhação e o bicho arregaçado ali. Tem que pedir ajuda dum bando de homem pra tirar o bicho morto da caçamba com eles olhando pra você e fazendo aquela cara. Um nojo. Comecei a trabalhar mais do que me pediam, até desrespeitava horário. Enganava supervisão pra sair com carga mais cedo, aprendi e ficava sabendo de cabeça os buracos maiores, o tempo de estragar o asfalto e aparecer buraco novo. As curvas ruins de fazer eu conhecia todas dos trajetos. Quando tinha vantagem de tempo, usava pra guiar o carro suave e não dar estresse no gado. Continuou morrendo quem saía da firma doente, um monte, mas eu virei a motorista que menos matava e começaram a me chamar de delicada. Dei pala demais, fiz maior propaganda. Dá até um pouco de vergonha lembrar. Mas foi assim que eu acabei na casa dum primo do chefe, de garanhão e égua de corrida. Eles precisam de motorista delicado pra transportar esses bichos.
Salvo em . 18/04/2019 . 17:10

É com isso que tô trabalhando agora. Venho no Rio trazer e levar cavalo na Gávea. E esse monte de história aconteceu enquanto eu tava te procurando. Deixei a poeira baixando uns três meses por causa daquela merda que rolou com o Gustavo. Depois comecei a te procurar pelo número velho de celular que tu não atendia. Eu resolvi gravar esses áudios pra não deixar você perder as doideiras que eu faço. Cada dia uma loucura, nem eu me aguento. Garota, menos de uma semana na cidade e já fui em quatro festas com uns caras que eu conheci. Tijuca, Barra, Madureira. Copacabana foi ruim. Porra, um monte de lembrança! Teve uma em que eu comi uma penca de costela de cordeiro e bebi cerveja à vera naquelas canecas grandes, sabe? Depois, cada casal ficou num canto da suitezinha, trocando as duplas e transando até quatro da manhã. Claro que eu passei mal, né? Com a barriga cheia, o vapor de suor e aquele cheiro de pau e buceta acumulando no ar. Tô voltando pra Minas com o corpo todo moído, dor na coxa, na bunda, no peito, sono atrasado, tendo que pegar estrada. Pra piorar, eu ainda não sei onde tá a credencial que eu uso pra entrar nas áreas do Jockey. Sumiu. Acho que perdi pra sempre. Vai ser a maior dor de cabeça. Nem precisa falar nada. Se tu me julgasse eu não conversaria essas coisas. Você é maluca também, a gente se conhece. Tomara que não tenha mudado muito.

Oi? Ah é? Enfia no cu daquele otário brocha do seu pai, seu merda! É isso aí! O quê? Pergunta à sua mãe!

Preta, Agora eu tô no meio dum engarrafamento, porque deve ter acontecido um acidente lá na ponta e tem uns idiotas me xingando aqui. Continuo depois. Caraca, tem sangue escorrendo…
Salvo em . 18/04/2019 . 18:31:46s

Cara, sabe a confusão que eu te falei? Aquilo ali foi nada. Rolou um rebuceteio depois que eu não sei nem explicar. Se tu tiver de olho nas notícias já viu o que aconteceu. Eu tava lá na hora.
Salvo em . 19/04/2019 . 00:12:18s

Tô acabada. Falta pouco pra chegar em casa, graças a Deus. Tô morando numa cidade chamada Lavras, que é onde fica a casa equestre do patrão. Charmosinha. Igreja, pracinha, coreto, estação velha de trem, fofoca, cocô de cavalo, paralelepípedo, agência do Bradesco, riachinho, homem de cinquenta anos de São Paulo circulando de Jipe. E ladeira pra caralho. Mineiro não evoluiu do macaco, veio do cabrito. Porrada de ladeira. Bonito de ver, mas chatão pra andar de salto. Igual às vinte mil cidades que eu atravessei pra chegar. Tem funk aqui também, já chegou faz tempo. Lavras podia ficar mais no meio do caminho, que assim era mais perto do Jockey e não ia fazer diferença. É muito Red Bull pra emburacar a BR040, preta. Doze horas na pressa, dezesseis na delicadeza pra não perturbar as éguas. Eu reclamo, mas é bonito. Quanto tu não tá coalhada de passar a noite na metelança que nem agora, fica no clima de curtir a paisagem, ver os bichinhos. Se não for trouxa, só para pra comer depois que chegar em Minas. Mete logo um copão de coca com pão de queijo da canastra feito com ovo caipira, laranjinho. Porra, não fode! Só burro pra comer no Rio quando pode lanchar em Minas. Tem uns. O melhor mesmo é viajar de dia no tempo de pegar o pôr-do-sol. O que eu conheço de estrada no Brasil é tudo com céu estalando de azul, mas pôr-do-sol de Minas e Brasília não tem como. Acho que tu ia se acostumar bem aqui. Tu é mais pra dentro que eu, ia logo se esbaldar no leite de fazenda pra fazer tuas paradas na cozinha. Aqui tu tem que ficar no sapato com as tuas receitinhas de frango, garota. Aqui tu é estudante. Vai fazer receita com galinha fresca. Eu lembro como tu é pra cortar carne, fazer picadinha, conhece as partes do boi, sabe desossar bicho. Ia aprender mais coisa. A gente ia curtir demais, ia zoar muito. Duas piranha na roça!

A segunda semana que eu trabalhei na fazenda, já tava de olho num peão, um garoto, me olhava com aquele jeito de moleque burro que eu gosto, tu sabe. Encontrei a casa dele, planejei e um dia bati na porta quase invadindo. Cheguei sábado de manhã e saí domingo de noite, triturei o coitado, ensinei um monte de coisa. No finalzinho do domingo, deitei o moleque de barriga pro alto e esfreguei a buceta na cara dele, pra frente e pra trás, com força, uns dois minutos, só pra dar um susto no tonto, me segurando pra não rir. Quando a gente terminou, assei a massa de pão que eu fiquei esticando e dobrando o fim de semana todo na casa dele e servi com a cerveja que eu também tinha trazido. São as coisinhas que eu gosto de fazer, de rir, de brincar, cuidar da pessoa. Depois de comer, falei que tinha transformado ele em homem e que ele não podia mais ficar estuprando ovelha no meio do mato. Ele não achou graça. Acho que a piada era mais verdadeira do que eu pensava. Tentei fazer ele escrever uns versos comigo, pra acalmar. Deve ter sido a última vez. Deixei pra lá essa mania de escrever poesia depois de foder. Ficava tudo ruim, não sei fazer. Só servia antes porque eu era muito triste, não conseguia evitar. Poesia escrita na tristeza é aquela comida ruim que a gente mesma faz e dá pra engolir só porque é nosso. Poesia sem tristeza não é cozinhar gororoba, tem procedimentos, é uma jardinagem que não dá pra levar na encenação, a planta não cresce só forçando a barra. Parei! Agora, depois de trepar, tomo banho e fico escrevendo os versículos da Bíblia que eu sei de cabeça. Eu passo um tempão lendo a Bíblia. Mateus e Paulo. Os Salmos eu leio muito. Leio de novo e de novo o Apocalipse, mas entendo quase porra nenhuma, os cavaleiros, os cálices, o dragão. Não entendo a Babilônia, mas queria morar lá. Algumas coisas eu acho que consigo sacar o que é, de Jesus ser invencível e maior que tudo, do que fica na frente da vista dele se iluminar e queimar, a língua derrotar qualquer mentira e cortar a alma como se a verdade de Deus fosse uma lâmina. Não fica nada inteiro se ele pisar em cima. Quando eu digo que não faço mais poesia é porque não tô mais afogada de triste. Leio os meus salmos e sei que vou te procurar até te encontrar viva. Enquanto eu tô concentrada nisso, não fico arriada do jeito que era antes, assim desse jeito. Comecei a ler escritura depois que eu fui num motel da BR040 com um pastor que eu conheci no Tinder. Me deu um Novo Testamento de bolso de presente, cara gente fina demais. Sempre quando eu venho no Rio te procurando, eu leio Mateus 10:16.
Salvo em . 19/04/2019 . 14:23:47s

Só tem um negócio: não fica de neurose com essas coisas de prostituta aqui e ali da Bíblia, pretinha. Não tem nenhum guardinha que não tenha trepado com uma das nossas e não vai ter ninguém limpo de pecado e com a carteirinha em dia pra arrastar a gente pro inferno. Eu acho. Não sei, tô contando com isso. E tem moral? A gente tem um monte de prostituto, a vaca, o boi, o cavalo de corrida, a ovelha. A gente prostitui todo mundo. Lá na casa equestre tem especialista em coletar porra de cavalo e vender em leilão. Leilão de porra e cavalo prostituto, pretinha! As vacas lá em Goiás, as que davam filhote, o veterinário enfiava o braço na buceta até o cotovelo pra inseminar e tirar temperatura. Davam remédio pra ficar com tesão de levar montada. A diferença é que a ovelha, o cavalo, o boi, a vaca não sabem que tão trabalhando, não escolhem, nunca teve égua e vaca Jezabel. E elas têm que parir! Parir até o útero virar do avesso de tanto fazer carne. Carne pra comer, carne pra correr, carne pra dar leite, carne de luxo pra fazer outra carne. Elas fodem pra fazer dinheiro igual a gente fazia, com a benção do anjo porque vaca não tem bolso e alguém tem que guardar pra elas. O mundo é uma fazenda. A gente tem que trepar pra divertir ou pra fazer os exércitos de cordeiros.
Salvo em . 19/04/2019 . 16:32:42s

O Gustavo era um arrombado, mas entendia isso. Pra ele, a gente era bicho sem bolso também, mas ele sabia que tinha que fazer com jeitinho. Você era a única que ele não conseguia empurrar nas coisas que queria, de lábia. Meu namorado nunca deu proteção, mas fazia parecer que dava. Mandou em mim o tempo todo. Primeiro porque gostava dele, depois porque tinha medo. Tu deve se lembrar certinho que ele fez dívida com policial na casa de jogo e começou a me esculachar junto com as outras putas. Mas o dia quando ele quebrou meus dentes e você me falou pra ir embora é que me dá um nó que eu não consigo desfazer. Tu ficou com o cu na reta porque não tinha como não saber que eu tava vazando, dava tempo de você avisar a ele. O tempo de arrumar aquela tralha toda e pegar o dinheiro que eu roubei. Penso nisso pra caralho, em como tu ficou ali dum jeito que ia dar ruim demais pra tu. Depois eu fico sabendo que ele morreu e foi encontrado em pedaços. Se você estiver viva e ele morreu antes de te pegar foi muita sorte, não foi? Sei lá. É sempre isso que eu fico tentando resolver. Será que foi alguém do caça-níquel que passou o cerol nele?
Salvo em . 19/04/2019 . 16:35:16s

Garantido que tu pode vir pra casa onde eu tô. Dá pra ir levando. A verdade é que a vida aqui é complicada, só vou dando um jeito, mesmo. Juntei uma merreca, mas não é suficiente e não tenho esperança de comprar caminhão pra mim sem ficar devendo. Todo mundo diz que a vida de autônomo tá uma bosta. E o que eu vou fazer depois, ficando velha e dirigindo caminhão? Não é só em caminhão, não. Eu conheci uma garota na porta do hipódromo. Ju. Veio falar comigo. A gente se pegou ali mesmo. Tomamos uma caipirinhas. Só beijo na boca. Falou da faculdade de química, que tá desempregada, queria saber das coisas do Jockey, fez um monte de pergunta, acho que ela queria um emprego lá. A vida tá muito difícil. E na estrada é perigo. Tenho medo de morrer, de não te encontrar. Eu consigo ficar em paz, às vezes, olhando a estrada, imaginando nós duas juntas de novo, amiga. Amor. Hoje eu só vejo poeira vermelha de terra. Fico sozinha e querendo carne, com a vontade escorrendo entre as coxas, arranjando mulher ou homem pra foder. Às vezes eu lembro duma gata que a minha tia criava. Teve uma época que ela apareceu com ferida nas patas, no nariz e fazia um barulho esquisito quando respirava. Depois a gente soube que o nome daquilo era doença de jardineiro. Ela tinha comida e outros bichos pra conviver, mas insistia em sair pra fuçar no mato e ficou doente assim. Lutou pra sair enquanto continuou viva. Acho que eu sou isso, escuto a rua chamando e vou. Aí eu chego em casa e deito de perna aberta pra cima, relaxada um tempo, pra depois ficar nervosa. Rezo debaixo do chuveiro. Esfrego a pele demais. Gasto a água toda da nascente dessa porra dessa cidade, mas nada tira o pó de barro do corpo. Eu pensava que ia me sentir livre depois que parasse de levar esculacho do Gustavo ficaria tudo certo. Eu só consigo me sentir livre fazendo de conta que eu tô livre junto contigo. Tu salvou minha vida, caralho. Não dá pra te virar as costas.
Salvo em . 21/04/2019 . 22:08:09s

Pretinha, tô na beira da estrada. Acabei de lanchar e tô entregando uns brinquedos de presente que eu me acostumei a dar pra umas crianças daqui. Elas moram numas casinhas no meio dum terrenão assim, barro e mato, umas casas pequenas sem laje, só parede e telha de cerâmica e pintura mais velha que o Brasil. Certeza que tu já viu alguma dessas. Quando pegava estrada com a minha mãe, eu via essas casas em beira de rodovia e não conseguia acreditar como alguém pode morar assim. Essa porrada de trânsito passando, o povo que mora ali exposto pra cacete e qualquer um podendo encostar o carro e pedir uma água, entregar uns presentes, podendo abater uma familia toda como se fosse um bando de porco ou galinha. É a terceira vez que venho aqui, mas nunca paro pra conversar direito com os meninos. Não dá, o caminhão fica muito visado. Começou com eles no acostamento dando tchau quando eu passava e agora tô aqui, com a caçamba cheia de cavalo e fazendo merda. Vê se pode. Tô indo. Não posso demorar muito tempo aqui.
Salvo em . 22/04/2019 . 16:22:40s

Esqueci de falar: eu passei por essas casas porque tô voltando no Rio pra entregar mais bicho, quatro éguas. Meu patrão foi de avião pra terminar a venda e ver as corridas, então já tá na cidade. Vou aproveitar que vou entrar no hipódromo pra tentar ver a Manteiguinha. Já te falei dela? É uma égua de corrida que a fazenda vendeu faz um ano, uma princesa. A Manteiguinha a gente disputava no tapa pra ver quem dava cenoura pra ela na boca. Mais anjo que ela só eu, que nunca matei ovelha na base do coice. Ficou minha amiga logo no começo, quando era doente e o tratamento pra ganhar peso não funcionava. Foi fácil saber que ela não dormia. Difícil era saber o que fazia ela ficar rodando em circulo à noite inteira dentro da baia. Aí descobriram que ela era uma égua da mesma raça que eu, puseram outra fêmea pra dormir de frente, ela parou de se sentir sozinha e ganhou uns cinquenta quilos rápido. Tô contando que se eu encontrar você, sua égua, eu volto a dormir melhor e é capaz até da minha bunda crescer. Colabora comigo. Tô chegando pra te procurar de novo.
Salvo em . 22/04/2019 . 17:44:41s

Vou pegar a serra, agora. É foda. Tem horas que você sabe que se precisar freiar o caminhão mais do que o normal pra evitar acidente não vai ter diferença nenhuma. Não tem o que fazer porque não é igual a carro de passeio. Sobra a reza. Vou com meu Salmo 121 de proteção. Pego um pilot, escrevo na janela e enquanto eu desço, eu rezo pra São Cristóvão trezentas vezes até o final. Ida e volta.
Salvo em . 22/04/2019 . 20:22:03s

Tô chegando no Rio. Acabei de passar por Petrópolis, por Saracuruna, tô no finzinho de Caxias. Já tá me dando aquele fervo no sangue. Mesmo com tudo que me aconteceu eu continuo gostando. Daqui uns três dias, vou querer ir embora de novo. Quando tô na roça eu quero voltar pra cidade, quando tô na cidade, quero fugir pra Roça. E lá eu fico ansiosa por causa do pó e da leseira, sozinha, acompanhada de gente que não é nós duas. Eu até penso que eu ficaria feliz sem viver contigo, mas sabendo onde você tá, sabendo que tá viva, indo te ver de vez em quando. Assim eu vou conseguir ficar tranquila em Minas, no meio daquela pá de rio, cachoeira, o pão de queijo quentinho. Consigo acreditar na vida ainda. Ter prazer na comida, nas trepadas nas paradas de beira de estrada que eu arranjo no aplicativo. Tem muita coisa e muito bicho bonito em volta, os cheiros de árvore que vão passando pelo nariz, que a gente ia sentir melhor se não ficasse tão fodida pelas outras coisas. O que falta é te encontrar. O meu plano é burro, mesmo. Não nego. Vou circular em frente às portas dos motéis onde tu atendia. Nos números que eu peguei dos sites de agência que o Gustavo vendia a gente. Vou ter que te reconhecer pelo rabo, pelos peitos. É assim. Vaca de leilão tem rosto, tem fitinha colorida. Mas puta, se botar a cara, tem B.O na casa do papai ou com cliente maluco. Vou te caçar nos aplicativos. Vou passar esse tempo no Rio sem ir a festa, mal e mal vou dar uma espiada na Manteiguinha. Tem que ter tempo pra ela, minha segunda égua. Não vou apostar que você tá em Copacabana, numa dessas Casas de Strip. Tu nunca gostou disso, de suruba com gringo fedorento! Ali não. Eu também não gosto de lembrar. Em Copacabana eu só volto se for pra te buscar com local certo.
Salvo em . 23/04/2019 . 07:38:09s

Pretinha! Tu nem sabe. A Manteiguinha ganhou uma corrida hoje. Caralho! Ganhei quatro pau, tesão demais. Vai dar bom, eu tô com sorte. Encontrei três garotas no sites que têm o corpo e cabelo parecidos contigo e tô com os números de telefone. Também vou dar uma passada nas festas que tu catava cliente. Vai dar bom sim, cara. Precisa, porra, meu celular vai entupir com esse tanto de áudio que eu tô gravando. Essa doideira tem que acabar. É amanhã!
Salvo em . 23/04/2019 . 18:19:41s

Não te encontrei na Barra. Dei de cara até com a Aninha, com a Vanessa, com Késia. A Késia acha que te viu pela última vez num samba no Andaraí, mas foi três anos atrás, não deu data certa, não garante que tu tá viva, nada. Não garante nada! Disse que parecia que tu não tava bem. Não posso dizer que é surpresa. Acho que eu deixei o segundo número de celular pro final porque era o que tinha mais chance. Tava com medo de perder a maior esperança de primeira e agora tô quase arrancando os cabelos. Tá por um fio, cara. Já procurei em tudo quanto é site de agência, já procurei nesses fóruns de punheteiro que fica dando nota pra serviço de puta. Agora tô com um número só de telefone na mão, duma que tem o corpo bem parecido com o teu. Mas é Photoshop demais, tua pele não tá ali, nem a pele de ninguém. Não sei quanto de chance tem. Na polícia eu não vou. Pode ser pior. Eu não sei o que vai ser amanhã de manhã se não for tu atendendo a porra do telefone. Não sei mais.
Salvo em . 25/04/2019 . 04:24:52s

Eu vou fazer uma oração, Preta. Antes de ligar pra esse número. Eu quero que você escute se conseguir receber esses áudios algum dia. Seja o que Deus quiser.

Senhor, imploro
socorra
seja eu a condenada
não sabendo ir a ti
e a uma certa outra alma
Amém
essa alma, a liberte o Senhor
que pague eu sozinha
que não pague mãe minha
irmã, mulher, minha família
Amém
perdão por dizer, gritar
palavra escrever
sofro demais calada
Amém
o que me vier hoje
agradeço, renuncio
ao amanhã, ao presente, ao lodo
ao satanás, um tudo
pela salvação
de certa outra uma; alma. das tuas
Amém, Amém, Amém
Amém, Amém, Amém

Tô indo lá. Beijo.
Salvo em . 25/04/2019 . 04:26:54s

Terça, 30/04/2019 . 10:30:00s
Pretinha, pega essa música! https://youtu.be/K8RUkjTmUj8
Enviado em . 30/04/2019 . 10:30:09

Sigo Bem faz parte da coleção Betume, Contos do Asfalto. São histórias interligadas. Lendo os próximos contos, você saberá o que acontece no engarrafamento e quem se acidentou. Acesse os outros contos abaixo:

  1. Cruzamento, Antiprólogo
  2. Boechat
  3. As Damas Entram e Saem
  4. Tração Humana
  5. Sigo Bem
  6. Retorno a Cem Metros, Antiepílogo

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